Analisamos se a posição mais icônica do Jiu-Jitsu ainda é um porto seguro ou um convite ao perigo no MMA de base.
Para qualquer praticante de Jiu-Jitsu, a guarda fechada é o “lar”. É a primeira posição que aprendemos, um símbolo de controle e segurança. No início do MMA, ela foi o alicerce sobre o qual lendas construíram suas carreiras, provando que um lutador por baixo poderia ser tão ou mais perigoso do que quem estava por cima.
Mas o jogo evoluiu. No cenário amador de hoje, onde atletas estão cada vez mais fortes, explosivos e com noções de defesa de quedas e ground and pound, a pergunta se torna inevitável: a guarda fechada ainda é uma ferramenta de sobrevivência ou se tornou uma armadilha perigosa?
O Santuário: A Guarda Fechada como Ferramenta de Sobrevivência
Para o lutador amador, especialmente aquele com uma boa base de Jiu-Jitsu, a guarda fechada pode ser um verdadeiro salva-vidas. Quando bem aplicada, ela oferece benefícios cruciais:
- Controle de Postura e Distância: A principal função da guarda fechada é quebrar a postura do adversário, trazendo sua cabeça para baixo. Isso anula drasticamente o poder de seus socos (ground and pound), pois ele não consegue criar o espaço necessário para gerar alavancagem.
- “Reset” Mental e Físico: Ser derrubado pode ser caótico. Fechar a guarda permite ao lutador que está por baixo “respirar”, neutralizar o ímpeto inicial do oponente e começar a pensar em sua próxima ação com mais calma, em vez de apenas se defender de uma chuva de golpes.
- Plataforma de Ataque: A guarda fechada não é apenas defensiva. Ela é o ponto de partida para um arsenal de finalizações clássicas (armlock, triângulo, kimura) e raspagens. Contra um oponente amador que comete erros básicos de postura, essas ameaças são constantes e muito reais.
Em resumo, para o atleta que se sente perdido no chão, fechar a guarda é o ato de trazer a luta de volta para um território conhecido e controlável.
A Armadilha: Onde a Guarda Fechada Falha no MMA
Apesar de suas qualidades, depender exclusivamente da guarda fechada no MMA moderno, mesmo no nível amador, pode ser uma estratégia arriscada e até mesmo fatal para o resultado da luta.
- O Perigo do “Amarrão”: Se o lutador por baixo não for ativo, a guarda fechada pode se tornar um convite para o adversário “amarrar” a luta. Ele pode simplesmente ficar ali, desferindo pequenos socos no corpo e na cabeça, o suficiente para pontuar e impressionar os juízes, enquanto o atleta de baixo gasta energia sem conseguir progredir.
- Ground and Pound Curto e Eficaz: Mesmo com a postura controlada, um oponente forte e experiente sabe como criar o mínimo de espaço para desferir socos e cotoveladas curtas, que, embora não sejam nocautes clássicos, causam dano, abrem cortes e contam muitos pontos.
- Vulnerabilidade na Abertura: No momento em que o lutador de baixo abre a guarda para tentar um ataque mais elaborado (como um triângulo), ele se expõe. Um adversário atento pode aproveitar essa fração de segundo para passar a guarda e avançar para uma posição de domínio superior, como os 100 quilos ou a montada.
A guarda fechada pode criar uma falsa sensação de segurança. O lutador se sente “seguro”, mas pode estar, na verdade, perdendo a luta round após round nos cartões dos juízes.
A Chave para o Sucesso: A Guarda Fechada Ativa
Então, qual é o veredito? A guarda fechada não é inerentemente boa ou ruim; sua eficácia depende inteiramente de como ela é usada.
A guarda fechada passiva, que apenas segura e espera, é uma armadilha. Ela é uma receita para perder por pontos ou ser punido pelo árbitro por falta de combatividade.
A guarda fechada ativa, no entanto, continua sendo uma arma letal. Isso significa:
- Atacar Constantemente: Buscar finalizações, mesmo que não se completem, para forçar o oponente a se defender e cometer erros.
- Desequilibrar o Tempo Todo: Usar os quadris e as pernas para quebrar a base do adversário, impedindo que ele se sinta confortável para golpear.
- Criar Ângulos: Mover o quadril para os lados para criar ângulos melhores para raspagens e ataques, em vez de ficar “chapado” de costas no chão.
- Saber a Hora de Abrir: Usar a guarda fechada como uma transição para outras guardas mais ofensivas (como a guarda-aranha ou De La Riva, adaptadas para o sem kimono) assim que uma oportunidade surgir.
Conclusão:
Para o lutador amador, a guarda fechada é uma ferramenta essencial, mas não deve ser o destino final. Ela é um excelente ponto de partida para neutralizar o perigo inicial, mas deve ser usada de forma proativa, como uma plataforma de lançamento para ataques.
Abraçá-la como um refúgio seguro é um erro. Dominá-la como uma posição de ataque constante é o que diferencia um bom praticante de Jiu-Jitsu de um grande lutador de MMA.
E você? Como você vê a guarda fechada no cenário amador? É uma posição que você busca ou que você ensina seus oponentes a evitar a todo custo? Compartilhe sua visão nos comentários!